Lucas Ventura
4 min readFeb 1, 2023

Aeroportos: suas despedidas e seus recomeços

Depois de 25 anos tive a oportunidade de desafiar a lei da gravidade e subir para além das nuvens. A experiência é de uma singularidade que só quem, pela primeira vez, sente o avião decolando e grudando seu corpo junto ao banco sabe. Tem gente que gosta dessa sensação toda vez que vai decolar, outros já perderam o primeiro amor e nem sequer tiram o fone e fixam o olhar na janela mais. Mas o iniciante em vôos fica atento a cada detalhe, sente cada frio na barriga possível e se delicia com a beleza de assistir as nuvens por sobre elas.

O sabor sentido de dentro do avião, contudo, não se compara com o gosto agridoce presenciado no saguão do aeroporto. A sugestão das companhias é de sempre chegar mais cedo no local para fazer o check-in, despachar malas e se preparar tranquilamente para o vôo. Porém, a vantagem de chegar mais cedo não está apenas na praticidade. Eu sei que na correria do nosso dia-a-dia nossa tendência é se preocupar com o tempo, com a agenda e com a bagunça que fica até difícil chamar de rotina. Só que sentar por alguns minutos e observar o vai e vem do saguão é especial. Encontramos peculiaridades não encontradas normalmente, como sotaques diferentes, fisionomias novas, correria para não perder o embarque, tranquilidade de quem tem convicção que está folgado no relógio, cachorrinhos em malas perfuradas para a respiração adequada (ou simplesmente respiração, não sei se é tão adequada assim, tenho lá minhas dúvidas). Mas vai além, particularmente, o que mais me chama atenção é imaginar para onde cada um está indo e o que levou essas pessoas irem aos destinos escolhidos. Eu posso não saber, mas os amigos e familiares que acompanham a pessoa amada até aquele momento sabem. Há se sabem!

Os aeroportos são compostos por abraços, beijos e choro de despedida. Seria um até logo breve ou longo? Só os mais chegados sabem. Ou não. Tenho certeza que em cada último abraço tem um pedacinho do parente indo com o passageiro àquele destino. Toda mágoa fica ali, de forma desprendida. Eu torço muito por isso. No ato daquela despedida tão dengosa e chorosa inicia-se um ponto final, para uma nova etapa. Cada nova experiência a ser vivida há de transformar a pessoa, não tem como ser indiferente diante de uma vivência nova e mais um pouco de esperança depositada na bagagem da vida.

Nem toda despedida é um último adeus. E nem só de despedidas os aeroportos sobrevivem. Muitas vezes é apenas um até breve, e o reencontro pode estar disponível no mesmo local que o choro fora de tristeza. E como é lindo ver pessoas salteando de alegria, chorando de felicidade e dando um abraço extremamente caloroso. A sensação parece ser de que aquele último abraço tinha sido um ponto e este novo abraço foi o início de um novo parágrafo. Nesse ínterim, notas de rodapé foram escritas e cenas deletadas foram gravadas e não vieram ao ar. Nem todo ponto é final, as vezes é apenas um enter para um novo parágrafo.

Nada disso foi vivido por mim dentro do aeroporto, afinal de contas eu estava indo sozinho passar alguns dias de férias em Curitiba. E por mais que eu estivesse indo sem companhia conhecida, a cidade curitibana me proporcionou emoções misturadas, pois recebi um acolhimento bem quentinho por ali (nada convencional, dizem). A despedida foi dura. Toda despedida tem seu gostinho amargo, acho que a humanidade não foi criada para se despedir, e sim tão somente para acolher. Essa sensibilidade deve ter gerado um efeito de me encantar ainda mais com o poder de emocionar corações que o aeroporto é capaz de produzir. E isso me fez pensar além, muito além, mas ao mesmo tempo muito próximo e palpável.

Eu não sei vocês, mas eu estou ansioso para o exato momento em que nosso Senhor virá nos encontrar, no saguão celestial. Houve um momento em que Ele subiu além das nuvens para preparar um aconchego para nós numa terra bem distante, nos prometendo que seria para morarmos com Ele por lá. Tenho a sensação de que é parecido com aqueles parentes que vão para a Europa para preparar o ambiente para irmos em seguida, com tudo pronto. Mas deve ser algo a mais que isso. Deve sim. Quando estiver tudo nos conformes, Ele voltará para nos encontrar e dar um abraço caloroso, não para ficar conosco aqui, mas para nos convidar a passar pelo raio-x e entrar na sala de embarque, pois terá um avião nos aguardando rumo a cidade Santa. Será eternamente saboroso, nada agridoce. Não vai haver choro de lamento, mas sim júbilo de glória. Este encontro será o mais festejado de toda a história humana, pois abraçaremos nosso Criador novamente, sem intermediação ou limitação, e com a certeza plena de que nunca mais desgrudaremos Dele. O vôo eterno nos aguarda, e vai acontecer um dia desses, a qualquer momento. Enquanto isso, aguardemos com paciência e fé no saguão terreno. Sempre há uma última chamada aos que não sabiam deste vôo antes. Todos são bem-vindos a bordo.